Eu em pedaços...
Cheguei em casa depois de um dia de trabalho comum. Realizei aquele velho ritual cotidiano: acender a luz do AP, jogar a bolsa no sofá, esperar meu gato vir abanar o rabinho dele no meu calcanhar... Pegar ele no braço, cheirar seu pelo macio, colocar sua água e ração... Então fui ao telefone ansiosa pra ver se tinha alguma mensagem na secretária eletrônica. E tinha. Apertei o botão e: 'Oi..eam..só queria dizer que estou indo embora. Pra onde?! Eu não sei. É que eu tenho que me encontrar sabe? Tô me sentindo um pouco deslocado. Quero tentar me resolver e não queria te machucar com minhas burradas.. então, é isso. Adeus.'
Caí no sofá. Meu gato saiu resmungando, acho que derrubei ele do meu braço. Nem pensei. Peguei minha bolsa com minha chave do carro e fui até a casa dele. O trânsito tava o mesmo de sempre. Os mesmos casais cansados voltando do trabalho junto de seus filhos que acabaram de sair do colégio. Os mesmos ônibus lotados. E no meu carro o rádio ligado, aquela música do show em que nos conhecemos na minha cabeça. Repetindo. Repetindo. Avistei a casa dele. Tudo escuro. Toquei a campainha na esperança que ele ainda estivesse lá. Bati na porta. Chutei. Olhei pro céu estrelado procurando alguma ajuda mesmo que por reflexo, por não estar raciocinando direito. Sentei na calçada, eu e minhas esperanças de que ele só foi no supermercado comprar o que ele ia levar pra sei-lá-onde.
A rua tava vazia, vento forte, folhas voando. Esperei, esperei. Os carros passavam e faziam meu cabelo - que eu acabara de cortar para mudar um pouco e agradar ele - bagunçar mais e ficar por cima dos meus olhos cheios de lágrimas. O caminhão de lixo parou na minha frente. Eu continuava na calçada.. sentada, com a mão no queixo, os dedos na boca, os dentes nas unhas. Vi o lixo sendo esmagado, triturado. O odor nem me fazia tão mal. Mas a imagem do lixo sendo revirado no caminhão ficava na minha cabeça, em câmera lenta, mesmo o caminhão já estando no final da rua.
Era assim que eu me sentia. Como um saquinho daquele de lixo. Com um monte de pequenas coisas dentro, amarrado e sendo diminuído, rompendo assim o que mantinha tudo juntinho. Eu, agora em pedaços, não me encontrava mais ao meio de tantos outros saquinhos reduzidos. Fui para casa, assim como o caminhão foi para seu destino final. Fiquei esparramada, eu ou o que sobrou de mim, assim como o saquinho estava no lixão. Esperando que alguém venha catar o pouco que sobrou e tentar reaproveitar, tentar me salvar... Como ele um dia fez.
Caí no sofá. Meu gato saiu resmungando, acho que derrubei ele do meu braço. Nem pensei. Peguei minha bolsa com minha chave do carro e fui até a casa dele. O trânsito tava o mesmo de sempre. Os mesmos casais cansados voltando do trabalho junto de seus filhos que acabaram de sair do colégio. Os mesmos ônibus lotados. E no meu carro o rádio ligado, aquela música do show em que nos conhecemos na minha cabeça. Repetindo. Repetindo. Avistei a casa dele. Tudo escuro. Toquei a campainha na esperança que ele ainda estivesse lá. Bati na porta. Chutei. Olhei pro céu estrelado procurando alguma ajuda mesmo que por reflexo, por não estar raciocinando direito. Sentei na calçada, eu e minhas esperanças de que ele só foi no supermercado comprar o que ele ia levar pra sei-lá-onde.
A rua tava vazia, vento forte, folhas voando. Esperei, esperei. Os carros passavam e faziam meu cabelo - que eu acabara de cortar para mudar um pouco e agradar ele - bagunçar mais e ficar por cima dos meus olhos cheios de lágrimas. O caminhão de lixo parou na minha frente. Eu continuava na calçada.. sentada, com a mão no queixo, os dedos na boca, os dentes nas unhas. Vi o lixo sendo esmagado, triturado. O odor nem me fazia tão mal. Mas a imagem do lixo sendo revirado no caminhão ficava na minha cabeça, em câmera lenta, mesmo o caminhão já estando no final da rua.
Era assim que eu me sentia. Como um saquinho daquele de lixo. Com um monte de pequenas coisas dentro, amarrado e sendo diminuído, rompendo assim o que mantinha tudo juntinho. Eu, agora em pedaços, não me encontrava mais ao meio de tantos outros saquinhos reduzidos. Fui para casa, assim como o caminhão foi para seu destino final. Fiquei esparramada, eu ou o que sobrou de mim, assim como o saquinho estava no lixão. Esperando que alguém venha catar o pouco que sobrou e tentar reaproveitar, tentar me salvar... Como ele um dia fez.
pois eis que me vem um pedaço de musica na cabeça, da queridissima marila lima: "pro começar, quem vai colar os tais caquinhos do velho mundo?" e imendo com outro trecho, mas dessa vez da Adriana Calcanhoto: "estou em milhares de cacos, eu estou ao meio... onde será que você está agora?"
bem sei como é estar 'em pedaços', com os 'caquinhos' precisando de uma colinha...
Baby blue arrasa, ouso até dizer que é uma das melhores. Viajo com seus textinhos flor.
adorei o texto! Sensação de "dejavu"...
qnt a ser melhor ou pior nao acho. acho diferente. Eh como dizer que cerveja é melhor que chocolate: não há comparação lógica. Existe mais a necessidade de operar a catarse atraves de algum texto... naquele momento. Todas são igualmente boas e diferentes nas personalidades, só isso
=DDD
continue escrevendo assim, beta!
xPP
Mas por que alguém tem que te salvar? Vc não é como um saco de lixo (sim, realmente não), inanimado, levado à vontade alheia para onde quer que seja. Tenho certeza que se o saco tivesse vida própria, ele pularia de lixo, e, pasme, se salvaria sozinho! Não precisamos efetivamente ser salvas, na verdade não precisamos de nada de ninguém. Queremos, esse é o verbo certo, companhia, carinho, chamego, felicidade. Queremos como quem quer comer sushi. Você não precisa de suchi pra sobreviver, vc quer.
Não gosto quando nós mulheres nos pomos nas mão de outrem e lá trancamos nosso destino, felicidade, frustrações... báhhhhhh eu tento e tenho que me bastar em mim, porque no final sou a única companhia realmente confiável, já que meus interesses nunca entrarão em conflito com eles mesmos. Até os mais verdadeiros amigos, têm conflitos entre desejos e vontades. Não podemos depender de ninguém!!!!!
o.O meu deus! eu estou realmente antropofóbica!!!!!